Em reunião do COS da ACSP, vice-presidente administrativo do Sescon-SP, Benedicto David Filho recomendou aos profissionais contábeis sentarem à mesa com seus clientes para mostrar os impactos do novo modelo tributário nos negócios
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Balanço socioambiental destaca boas práticas corporativas
Além de prestar contas à sociedade sobre programas e ações de responsabilidade social e ambiental, documento projeta empresas no mercado, garantindo reconhecimento e alcance a investimentos
Embora não sejam obrigatórios, os balanços de responsabilidade social e ambiental ganham cada vez mais importância no mundo corporativo. Todas as modalidades de empresas, de qualquer porte, podem obter vantagens com a produção do documento, que reflete ganhos, também, para sociedade. Afinal, o balanço socioambiental nada mais é do que a prestação de contas de ações promovidas por companhias comprometidas em minimizar impactos negativos, tanto para sociedade quanto para o meio ambiente.
Para o coordenador da comissão responsável pelo balanço social do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRCRS), Marco Aurélio Bernardi, o comprometimento com ações socioambientais é uma exigência da própria sociedade. “Quem dá resultado para a empresa? Basicamente, o cliente. O empresário deve retribuir os resultados que obtém investindo em ações sociais. É o dividendo social”, defende, lembrando que os consumidores querem ter relacionamento com marcas que tenham esse viés. “O foco principal é fidelizar o público, e o empresário que quer manter o cliente sempre tem de ter responsabilidade social”, argumenta Bernardi.
Entre a ação empresarial e a expectativa social, está o trabalho do contador. Responsável por identificar as boas práticas da empresa, é o profissional de contabilidade quem organiza todas as informações e as relaciona, apresentando um relatório completo, que contempla desde informações básicas sobre o negócio até os resultados obtidos com programas e ações de cunho socioambiental.
Como não existe lei específica sobre a elaboração desses balanços, o Conselho Federal de Contabilidade divulgou duas resoluções (1.003/2004 e 1.409/2012) para orientar os profissionais sobre as informações que devem ser apresentadas no documento. Outra iniciativa para promover a adesão aos balanços (que podem ser apenas sociais ou ambientais – ou unir as duas perspectivas) foi a soma de esforços de toda a rede CFC-CRC para que as regionais vinculadas apresentassem seus balanços. Embora várias unidades já tivessem a prática, a adesão foi total, e pela primeira vez neste ano todos os conselhos regionais, juntamente com o federal, divulgaram balanços relativos ao ano-calendário 2012.
Empresas que têm o intuito de participar de prêmios de responsabilidade social devem não só que elaborar o balanço, como mostrar, a partir dele, que o discurso e a prática da empresa estão alinhados. “O balanço tem que representar a filosofia da administração, seus princípios e valores”, sintetiza Bernardi, que elabora o balanço social do CRCRS. “O nosso relatório basicamente mostra para o contador o que o conselho faz pela categoria”, explica. Outra fonte de consulta para os profissionais de contabilidade são duas publicações do CRCRS : “Demonstração da Responsabilidade Social” e “Manual de Incentivos Fiscais” (ambos disponíveis para download no site do CRCRS).
Relatório integrado é tendência futura
Tão importante quanto identificar o nível de comprometimento social das empresas, acompanhar de que forma as ações de responsabilidade impactam o desenvolvimento financeiro das companhias é outra necessidade do mercado econômico e uma tendência futura, que deve culminar com a elaboração de balanços integrados – que concentrem tanto informações financeiras quanto socioambientais.
O presidente do conselho deliberativo do Instituto Ethos, Sérgio Mindlin, explica que a proposta já está em debate em esfera internacional. O desenvolvimento de um modelo que possa ser adotado pelas empresas é estudado pelo Conselho Internacional do Relatório Integrado (em inglês, International Integrated Reporting Council – IIRC), que tem, entre as empresas integrantes, nove brasileiras.
“Consideramos muito importante ter relatórios que transmitam a todos os interessados informações claras que permitam não só entender o que está acontecendo com as finanças, mas também as estratégias, os riscos que a empresa enfrenta, sejam riscos de mercado ou de obtenção e variação de preços das matérias-primas. É importante que haja mecanismos de informação e que olhem para todas essas questões”, destaca Mindlin. O maior desafio em conseguir unificar esses dados está justamente na forma de gestão das empresas, que, em geral, trabalham separadamente temas financeiros e sociais.
Para Mindlin, ter os dados financeiros e sociais relativos às práticas das empresas cruzados é fundamental para dar maior transparência às informações prestadas e, principalmente, evitar distorções. “Uma coisa que se diz e se encontra nos relatórios é que as empresas têm como o maior patrimônio os empregados. Mas, depois, o relatório financeiro contém uma previsão alta de pagamento com ações trabalhistas. Isso é contraditório”, adverte.
Embora ainda esteja em fase de elaboração, algumas empresas já tendem a apresentar informações cruzadas nos relatórios para facilitar a compreensão das informações, conforme defende Mindlin. “A expectativa é de que logo elas comecem a aplicar esse modelo de relatório integrado. É um processo, e vai levar tempo para que ganhe escala até que seja normatizado em forma de lei. Tem um caminho longo ainda.”
Informações seguem estrutura padrão
Além de estar alinhado com as práticas empresariais, o balanço social precisa seguir uma metodologia simples, mas que facilite a compreensão dos dados, explica o presidente do CFC, Juarez Domingues Carneiro. O modelo é o mesmo independentemente do tipo de organização. “Na primeira parte, apresentam-se a instituição, sua missão, o que é a empresa, o que faz, os níveis de relacionamento, o tipo de ação institucional que distingue essa empresa, se obteve destaque em uma ação específica. Preciso saber quem é a empresa, conhecê-la”, explica Carneiro.
Ainda tratando do negócio, a segunda parte destaca o que a instituição faz. “A primeira missão social da empresa é cumprir com a atividade pela qual ela foi instituída, mostrar a atividade operacional. Se ela estiver cumprindo a atividade operacional, arcando com seus impostos, ela está cumprindo um preceito social”, orienta o presidente do CFC.
Na terceira parte, o relatório detalha os recursos humanos da empresa e o que ela faz pelos seus funcionários. As ações externas, sejam sociais, sejam ambientais, são expostas apenas na quarta parte do documento, na qual são descriminadas as práticas de responsabilidade socioambiental. “Por fim, o balanço deve apresentar um demonstrativo financeiro, e o resultado através de cômputos contábeis que possa ser compreendido mesmo por quem é leigo em contabilidade”, finaliza Carneiro, lembrando que o balanço tem que ter como prerrogativa a transparência.
Iniciativa pode ser revertida em melhorias
As ações de responsabilidade social, mais do que expor comprometimento, têm um reflexo amplo na visibilidade da empresa, avalia o presidente do CFC, Juarez Carneiro. “O que eu ganho fazendo o bem? Satisfação pessoal, gero exemplo, tenho a condição de ser uma empresa diferenciada de uma comum, o que leva ao respeito, à credibilidade, e ainda deixa algo positivo para uma geração futura”, menciona. No entanto, ressalta, companhias que têm programas de responsabilidade social acabam tendo preferência em licitações públicas e na obtenção de investimento.
Os ganhos, segundo o presidente do conselho deliberativo do Instituto Ethos, Sérgio Mindlin, vão além da visibilidade e podem ser revertidos em melhorias de processos, com consequências positivas para a sociedade. “Muitas dessas questões sociais e ambientais com as quais as empresas se defrontam são efeitos que elas provocam externamente e cujos custos elas nem sempre assumem”. Como exemplo, ele cita o aumento de trânsito como uma das implicações sociais decorrentes da construção de um empreendimento empresarial. Segundo ele, se, contabilmente, a empresa tivesse que reconhecer e se responsabilizar pelo efeito que ela provoca, esse efeito estaria refletido nos negócios.
“O presidente de uma empresa pediu para a equipe fazer um cálculo dos custos gerados pelos impactos ambientais que a empresa provoca e pelos quais ela não era responsabilizada. Esse custo era de algo em torno de 45% do lucro naquele ano. Se ela tivesse que arcar com essa responsabilidade, teria que informar no balanço financeiro”, exemplifica Mindlin, concluindo que essa prática pode levar empresas a alterar processos e a minimizar efeitos que provocam.
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